terça-feira, 21 de outubro de 2008

Orientação


DOCÊNCIA E PLANEJAMENTO

Planejamento docente é uma das temáticas mais discutida na educação, desde outrora, porém ainda não superada, pois a mesma perpassa por inúmeros questionamentos, desde o significado a sua função.
Neste respeito é válido ressaltar que Zabala (1998, p.18) chama atenção para necessidade de elaborar uma seqüência de atividades ordenadas, sendo as atividades um elemento identificador da prática docente,
“Se realizamos uma análise destas seqüências buscando os elementos que as compõem, nos daremos conta de que são um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para realização de certos objetivos educacionais, que tem um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos.”
Na perspectiva de Leal (p.1), o planejamento, também é assunto de seria importância, o qual está presente inclusive na nossa vida social, a mesma defende o planejamento como “processo que exige organização, sistematização, previsão, decisão e outros aspectos na pretensão de garantir eficiência de uma ação seja em um nível micro, quer seja no nível macro.”
Evidentemente, é necessário planejar, não há seqüência em atividades aleatórias, tais quais o professor representado no filme “O jarro” realizava, a repetição e memorização eram à base da sua metodologia, não fazia intervenções que provocasse o pensamento dos estudantes, por exemplo, numa aula de Matemática, ele simplesmente disse a resposta correta ao aluno que estava tentando responder, ou seja, nenhum desafio e que dizer da aprendizagem? Completamente questionável. Entretanto sabemos que planejar para turmas multisseriadas não é fácil, aquele professor se desdobrava entre educandos em níveis de aprendizagens diferentes, além disso, estava inserido numa realidade social escassa economicamente e porque não dizer culturalmente, embora não seja justificativa para a má qualidade pedagógica das suas aulas.
1998, primeiro ano de docência, não fui parar literalmente no deserto, mas era “um lugar no meio do nada” – Mocozeiro – também, turma multisseriada, alunos da alfabetização a 3ª série, minha metodologia não era muito diferente da descrita acima, a única coisa que fazia bem era a leitura dos clássicos, as crianças ficavam boquiabertas com minhas “caras e bocas”. No 2º semestre do mesmo ano fui para turma de aceleração, era só seguir o módulo, planejar, era só estudá-lo e pronto. Já nas séries finais do Ensino Fundamental, 1999, descobri que planejar ia além de conhecer o conteúdo programado, “o planejamento do ensino significa, sobretudo, pensar a ação docente refletindo sobre os objetivos, os conteúdos, os procedimentos metodológicos, a avaliação do aluno e do professor.”(Leal, p.2)
Tudo teria acontecido num estalar de dedos? Evidente que não, foram muita leitura – Vasconcelos, Zabala, PCNs, Freire, Perrennoud, Houffman , etc, para repensar o planejamento, compreender a lógica de uma seqüência didática e não me decepcionar quando o planejado não dar certo, encaro como um diagnóstico para o próximo planejamento, é um desafio, principalmente levando em conta a dimensão do ato de planejar, política, técnica, social, cultural e educacional. Sinto-me como diz Freire (2002, p.31), “ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se “dispõem” a ser ultrapassado por outro amanhã.”
Ao planejar desde o ano letivo à aula do dia, deve-se traçar uma finalidade bem definida, haja vista, que não há neutralidade na prática pedagógica, é um ato político. O educador é também um educando, o investigador da sua área de trabalho, a didática, o eixo do planejamento.
Refletir didaticamente ajuda o professor a apurar o olhar sobre a prática docente, entretanto é necessário ter um foco, como diz Freire (1996, p.12) “o olhar sem pauta se dispersa. Olhar pesquisador tem planejamento prévio da hipótese que se vai perseguir durante a aula...”
Enfim, ensinar exige consciência do inacabado, portanto faço minhas, as palavras do mestre Paulo Freire (2002, p.55)
“como professor crítico, sou um “aventureiro” responsável, predisposto a mudança, à aceitação do diferente. Nada do que experimentei em minha atividade docente deve necessariamente repetir-si. Respeito, porém, como inevitável, a franquia de mim mesmo, radical, diante dos outros e do mundo. Minha franquia ante os outros e o mundo mesmo é a maneira radical como me experimento enquanto ser cultural, histórico, inacabado e consciente do inacabado.”

REFERÊNCIAS:

FREIRE, Madalena. Observação, registro, reflexão instrumentos metodológicos. 2ª ed. São Paulo: Artcolor, 1996. 63 p. (Série seminários 10).
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia saberes necessários à prática educativa. 22ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2002. 165 p. (Coleção leitura 10).
LEAL, Regina Barros. Planejamento de ensino: Peculiaridades Significativas. Revista Iberoamericana de Educación (ISSN:1681-5653). Universidade de Fortaleza, Brasil.
O JARRO. Direção: Ebrahim Foruzesh. Intérpretes: Fatemeh Azrah, behzad Khodaveisi, Hossein Balai, Alireza Haji-Ghasemi. Trilha sonora: Mohammad Reza Aligholi. [S.I.]: Cult filmes, 1992. 1 DVD (1h23).
ZABALA, Antoni. A prática educativa como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998, 224p.

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