sábado, 6 de novembro de 2010

FILME: NADA É PARA SEMPRE

"QUANDO AS MEMÓRIAS NARRAM EXPERIÊNCIAS"

As memórias individuais constroem imagens que ultrapassam o individual, sua subjetividade perpassa pelo coletivo. O filme 'Nada é Para Sempre' dirigido pelo cineasta Robert Redford, que fez uma adaptação baseada em um livro autobiográfico de Norman Maclean, é um belo exemplo disso.

O coletivo é representado quando, Norman vai trabalhar em uma reserva florestal, porque os homens que estavam ali antes, tinham ido para a 1ª Guerra Mundial; em outra cena, Norman fala que pai de sua namorada está falindo, embora seja dono da única venda/mercado da localidade, essa era uma evidência de que a queda da bolsa de valores os afetavam, assim como afetou o mundo todo; ambientado no início do século XX, emMissoula, Montana, o fato da índia namorada do irmão de Norman, Paul, é uma demonstração do massacre aos índios no território norte americano. São exemplos de que o coletivo altera o individual, embora apareça de forma sutil na narrativa.

O filme proporciona um mergulho diegético, ou seja, leva o expectador a se perder naquilo que ver, de tal modo que ele não se envolve na História coletiva, que entrelaça com a história de vida representada na trama.

Nessa obra de arte, nada sobra, nada falta! Ao narrar suas memórias Norman evoca o passado, aquilo que foi mais significativo, ou seja, suas experiências. Ao escrever memórias, embora tenha sido vivida pelo próprio autor, ela nunca é real, é uma interpretação do passado, que ao ser vivenciado era só sentimento, o tempo racionaliza os acontecimentos.

Não é em vão que ganhou o Óscar de melhor fotografia. Os ângulos são perfeitos e o cenário ajuda, muitas cenas são filmada em plano aperto, as quais exploram bastante a beleza natural onde a família Maclean pescavam constantemente.

NADA É PARA SEMPRE. Título original: A river through it. Direção: Robert Redford. EUA: Columbia Pictures, 1992.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

GECI - O TRIUNFO DA VONTADE


O Triunfo da Vontade, o cinema na história. A o obra é um documento histórico produzido com o objetivo de divulgar o regime nazista, na Alemanha e retratar Adolf Hitler como épico. Vale ressaltar que foi o próprio Hitler que encomendou o documentário a diretora Leni Riefenshal, na busca de um olhar artístico e não puramente funcional. A propaganda da supremacia da “raça” ariana, é a maior responsável pelo espírito nacionalista dos alemães e pelo maior massacre xenofóbico da história humana.
A cineasta utilizou de algumas sutilezas para cumprir o objetivo de Hitler. Dentre elas, a chegada em um avião, as imagens feita de cima, transmite a ideia de um deus descendo do céu, tal como Cristo, a salvação da nação. Já as cenas dele no palco é filmada de baixo, dando a impressão de que ele é maior, superior. Algumas filmagens são feitas em ânglos fechados, em momentos em que ele transitava entre o povo, sobretudo, ao tocar as criancinhas, provavelmente para divulgar seu popularismo e conquistar a aceitação da ideologia nazista.
A gravação foi feita durante os três dias vividos por Hitler no Congresso Clímax para união da SA e SS. Entretanto, será que o Congresso foi feito para ser filma
do, ou foi filmado por sido realizado? Muito suspeito! Para piorar, o filme foi premiado sob encomenda do próprio Hitler com o Deustche Filmpreis.
No âmbito escolar, bem como na formação pessoal, esse documento histórico, favorece inúmeras possibilidades de estudo, por exemplo, o poder da propaganda, o poder do discurso/teatralizado, a formação da identidade de uma nação e uma reflexão em relação aos personagens – todos brancos, jovens e saldáveis.

domingo, 31 de outubro de 2010

COMENTÁRIO: CRASH - NO LIMITE


PRECONCEITOS NA TELA

No filme CRASH - NO LIMITE, O diretor canadense Paul Haggis reuni inúmeros personagens em diversas situações - o policial negro cujo irmão é um infrator; o chefe da polícia de Los Angeles que tem seu carro roubado por dois negros; o comerciante iraniano que contrata os serviços do chaveiro mexicano; o policial branco, cujo pai sempre ajudou os negros e acabou falindo, que aborda um casal negro de classe média alta e extrapola na abordagem da mulher.Com esses personagens ele apresenta as relações interpessoais e interraciais na cidade de Los Angeles.

Ter Los Angeles como cenário é bem interessante na discussão acerca do preconceito racial pois é pólo da imigração de várias culturas de diferentes povos. As colisões (crashes) são metáforas de como as diferentes raças e/ou pessoas interagem numa Los Angeles que superficialmente representa o ápice da democracia étnica, mas no fundo está longe de sê-lo.

O filme entrelaça várias narrativas, a princípio independentes uma das outras, entretanto não estão por acaso nas películas, pois ao se cruzarem denunciam a presença do etnocentrismo e como a alteridade tocam as pessoas que também tem múltiplas identidades.

A mensagem do filme é muito forte! Em resumo: ninguém é melhor que o outro e nem é bom em si mesmo. Então para que o preconceito?!

SÍNTESE: AS TIC NA EDUCAÇÃO


Com o advento da comercialização da internet ocorreram muitas transformações sociais, as quais perpassam pelo âmbito da educação escolar. Segundo pesquisa realizada por Rosane Albuquerque dos S. Abreu essa popularização mexe com o cotidiano escolar, sobretudo na relação professor, aluno e a produção do conhecimento.

Para muitos professores o novo causa medo ao mesmo tempo em que lamentam a perda do poder sobre os conteúdos que hierarquicamente detinham até em tão, visto que, seus alunos estão anos luzes à frente no manuseio da máquina e a curiosidade pelo novo, de modo
que suas percepções neste ambiente possibilitam maior agilidade em fazer inúmeros links, afinal são nativos na/da rede.

Os professores pesquisados alegam que estão sob a pressão mercadológica, a pressão dos pais e a pior pressão de todas – a pressão dos alunos. A garotada quer atividade relacionada ao mundo deles, alegam alguns docentes, porém não admite a inversão de papéis na hierarquia do saber, obedecendo a concepções de ensino e aprendizagem que defendem o professor como detentor do saber. Agora é a vez da meninada nos ensinar!

Vivemos novos tempos, portanto novos espaços. Carla Imenes trata desses dois termos paralelamente – tempo/espaço. Lembra que, na concepção medieval o espaço aparece como algo dicotômico, portanto qualitativo. Na perspectiva da modernidade o espaço é visto de maneira linear e o tempo uniforme e nega o sujeito, pois o mesmo não interfere no seu transcorrer. Ambas as concepções não supri as necessidade atuais, pois a autora partiu do princípio de que um mesmo local constitui múltiplos espaços ao mesmo tempo, daí o termo tempo/espaço.

"Neste sentido, utilizamos o termo tempo/espaço para representar as relações intrínsecas entre os múltiplos espaços e tempo do cotidiano escolar, com o intuito de pensar que usos as pessoas fazem das diferentes tecnologias e que redes de saberes são formadas nos processos múltiplos e distintos que se estabelecem dentro das inúmeras interpretações que os sujeitos criam e recriam – em seus contatos cotidianos com os outros e com os instrumentos tecnológicos – tecem, destecem e retecem, nos espaços e tempos escolares". (IMENES, 2002, p. 118)

O tecer, destecer e retecer da tecnologia nas escolas em muito vai depender das concepções de ensino e aprendizagem dos docentes, pois os mesmos correm o risco de se instrumentalizarem com todo o aparato maquinário que existe disponível no mercado, entretanto continuar na mesmice.

É necessária a politização do docente para perceber as relações de poder que vão sendo estabelecidas dentro da escola – quem tem acesso às máquinas? Quem e como é decidido o seu uso? Facilmente elas podem se transformarem em mobiliaria para enfeitar a escola e também denunciarem as intenções do docente em deter o saber em suas mãos, portanto

"Nas práticas cotidianas, professores e alunos produzem histórias singulares e imprevistas, vão experimentando, readequando e modificando, por meio da criatividade, as diversas tecnologias. Os usuários ou receptores não as recebem de forma passiva e homogênea. Cada um vai ressignificando, de acordo com as possibilidades, os limites, os interesses e os valores presentes (ocultos) nas múltiplas e complexas lógicas do cotidiano". (IMENES, 2002, p. 120)

Portanto mais do que aprender a técnica, faz-se necessário aprender a otimizar o uso da tecnologia e também, não utilizar a falta dela como pretexto para desqualificar a aula/aprendizagem. Pois a ênfase deve ser nas relações estabelecidas com a tecnologia, não com o objeto. É nessa perspectiva que Imenes defende o conhecimento-emancipação, pelo viés da racionalidade estético-expressiva, ou seja, professores e alunos utilizam as tecnologias como meio para potencializar as ações coletivas, todos os sujeitos envolvidos têm voz – alunos e professores, em uma relação horizontalizada.

REFERÊNCIAS:
ABREU, Rosane Albuquerque dos S. "Cabeças digitais" um motivo para revisões na prática docente.São Paulo: Loyola, 2006.

IMENES, Carla. Os espaços/tempos do cotidiano escolar e os usos das tecnologias. in: LEITE, Márcia; FILÉ, Valter (orgs.). Subjetividade, tecnologias e escolas. Rio de Janeiro: DS&A, 2002.

RESENHA


A MENOR MULHER DO MUNDO

RESUMO:

O pesquisador francês Marcel Petre encontrou no coração da África o menor povo do mundo, mais especificamente, os menores Pigmeus. Sua pesquisa foi intitulada – A menor mulher do mundo. Pois ele tivera contato com uma mulher, madura, grávida, de apenas quarenta e cinco centímetros, a qual ele denominou como pequena flor e ao descrevê-la disse que era “escura como um macaco”, em outro momento ela foi comparada também a um cachorro por conta dos seus pés espalmados.

A foto de pequena flor em tamanho real nos jornais, em pleno domingo, chocou muitas famílias, que usaram alguns adjetivos referindo-se a pequena flor, por exemplo, coitadinha, tristinha, coisa, negra, calada. Alguns a desejava como seu brinquedo, outros lembravam que ela teria o menor bebê preto do mundo.
Quanto ao pesquisador, esse ficou constrangido ao vê-la coçando em suas próprias partes intimas e causou-lhe mal estar ao vê-la ri. Certamente ela ria porque alguém diferente dela aproximava-se e não queria comê-la, como fazia os Bantos e os animais selvagens. Para se proteger desses ‘predadores’ ela e seu povo morava em árvores bem altas e só desciam para buscarem alimentos ou para dançar ao som de um tambor. Sua comunicação era breve, mais com gestos, entretanto o pesquisador conseguiu se comunicar um pouco com a pequena flor.

A pequena flor amava aquele homem amarelo, grande e amigável, bem como sua bota e seu anel, o amor ao material não interferia no amor à pessoa entre os Likoualas, assim como o era no mundo dos franceses.

ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DO CONTO:

O pesquisador Marcel Petre usa o método etnográfico no seu trabalho. Observador e curioso faz anotações acerca das suas descobertas, entretanto atribui valores ao que ver, um exemplo é quando compara à mulher que encontrou a macaco e cachorro, uma evidência de etnocentrismo, pois considerava seu grupo cultural superior ao dos Likoualas, reduzindo-os a animais. Os Likoualas enfrentavam ainda os Bantos que os reduziam, apenas, a alimento.

Como todos os seres humanos os Likoualas também tem sua própria identidade. Caracterizam-se por sua linguagem breve e simples, a comunicação é por meio de gestos para complementar as poucas palavras; lutam pela sobrevivência, residindo no topo das árvores e descendo para buscar alimentos; e a espiritualidade é contemplada ao som de um tambor. Essa descrição evidencia que independente da identidade de cada grupo, há entre eles pontos comuns, as necessidades básicas de cada ser humano, a saber, comunicação, abrigo, alimento e divindade.
Mesmo a base sendo comum a alteridade causa estranhamento. Os hábitos do outro incomoda quando diferentes dos hábitos do eu. Desviar os olhos é uma fuga ao atribuir julgamento de valores ao comportamento alheio, como coçar uma parte intima em público.

O estranhamento provoca também sentimentos de pena, piedade, desprezo e até desejo, porém desejo de possuir como enfeite, brinquedo, para diversão, pondo até a imaginar-se como aquele ser tão pequeno, de apenas quarenta e cinco centímetros, poderia servir a alguém em mesas ditas normais na sociedade ocidental. Em hipótese alguma deseja o outro dentro dos parâmetros da própria cultura dele.

Dentre os leitores da matéria publicada em jornal sobre a menor mulher do mundo, encontra-se polidas madames que fazem uso da identidade ocidental, em que se escondem os filhos por detrás de palitos e gravatas para protegê-los de alguma coisa escura como um macaco.

O ápice do estranhamento ocorre no momento em que o explorador sentiu mal está ao perceber a pequena flor ri, certamente porque ‘bichos’ não riem. Enquanto isso, ela contemplava alguém diferente dela que não demonstrava interesse em transformá-la em alimento. Entretanto iria exibir sua jóia rara numa ótica tão afiada quanto os dentes dos Bantos.

Imagina-se o que pequena flor faria se tivesse acesso aos acessórios que o homem amarelo usava? Os penduraria nos galhos da árvore para enfeitá-la? Usaria o reluzente anel ou as botas? Não. E não seria por causa da incompatibilidade do tamanho, seria pela incompatibilidade cultural.

REFERÊNCIAS:
LISPECTO, Clarice. A menor mulher do mundo. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1994.

O GRANDE MAL: otiecnocerp


O detalhado e criativo texto – Ritual do Corpo entre os Sonacirema – de Horace Minner, convence a maioria dos leitores, de que, sofrem do mal otiecnocerp, ainda que na primeira leitura, associe esse povo a palavra cultura. Cultura essa que jamais praticaria. Ledo engano!

A primeira impressão é de que se trata de uma cultura distante, praticada por um povo selvagem, cheios de rituais místicos, mágicos e lá no fundo, surge até a classificação de satânicos: queimar a cabeça. Inadmissível!

Entretanto, ninguém é preconceituoso. Só não praticam esses ritos exóticos porque não são da sua cultura, ou seja, fazem parte de outra selva – a americana EUA, que dita os rituais que todas as selvas subdesenvolvidas devem seguir – chapinha, silicone, cuidados com a saúde, estética. Verdadeiras escravas da superpotência mundial em que a ordem satânica é o capitalismo. Torna a maioria das pessoas, camufladamente em ‘vítimas’ do otiecnocerp.

Para superar esse mal a primeira medida é tirar a máscara e assumir que foi contaminada pelo PREconceito. Livrar-se da camuflagem da inversão!

O que mais chama atenção na produção de Horace Minner é que nos primeiros parágrafos ele fornece todas as informações necessárias para situar, a tribo descrita no texto, em seu território. Porém ao usar metáforas, o cérebro contaminado pelo otiecnocerp, deleta todas as informações anteriores às palavras-sintoma: homem-da-boca-sagrada, pó mágico, feitiço, rituais, curandeiro, santuários, cerimônias, templo da água, caixa de mágica, etc. Logo, somos transportados para uma tribo no meio de selva africana, que ironicamente fica entre o Cree do Canadá aos Yaoui e Tarahuma do México e aos Carib e Aruaque das Antilhas.

O pior é admitir que o erro de localização não reprova só na matéria de Geografia, mas também, na de Cidadania. Primeiro, por não aceitar a cultura ‘não civilizada’. Segundo, por ser consumidora cega da cultura norte americana. QUEM NÃO É PRECONCEITUOSO?!?

ETNICIDADE: DIPLOMA DA/NA ROÇA


A etnicidade estuda a fusão entre raça e cultura. Pensar essa temática no território brasileiro é complexo diante da diversidade existente. E pensar etnicidade na realidade do jovem – adolescentes, é mais complexo ainda, pois além das mudanças de ordem biológicas, naturais da idade, eles têm de lhe darem com as questões de identificação, isto é, etnicidade.

Irecê é uma cidade localizada no sertão baiano que comporta vários territórios rurais, dentre eles a Vila Angical, que fica a 15 km da sede do município, que tem em média três mil habitantes. São os jovens – adolescentes desta localidade que serão apresentados nos parágrafos seguintes.

A Escola Municipal de Angical atende a alunos de Educação Infantil e Ensino Fundamental I e II. 80% dos alunos do Ensino Fundamental II, que tem entre 11 e 14 anos, foram ouvidos em relação à rotina diária deles e suas expectativas no tocante ao futuro.

Na rotina das garotas quase todas ajudam as mães nas atividades domésticas, inclusive cuidar dos irmãos mais novos. Alguns garotos ajudam os pais na roça, visto ser a atividade econômica predominante na comunidade, outros molham os canteiros e cuidam dos animais de estimação ou que complementam a renda da família, como galinhas, porcos, bodes, vacas, cavalos, etc.

Em meio aos trabalhos, ainda sobra tempo nas manhãs desses jovens para praticarem esportes, na única quadra poliesportiva da localidade, que já se encontra bastante deteriorada. Esse mesmo local é um dos points frequentados pelos jovens à noite, seja para jogar e/ou observar outros jogando, paquerar, namorar, fazer e manter amigos. Na verdade, essa é uma das poucas áreas de lazer que eles têm acesso.

Aqueles que não se encontram na quadra à noitinha estão na praça, também única, cumprindo o mesmo ritual – paquera, namoro, bate papo com amigos e alguns já iniciaram a experimentação ao álcool e talvez drogas ilícitas. Outros controlados pelos pais ficam em casa vendo televisão ou no máximo vão à casa dos vizinhos e uns poucos declararam que optam por um bom livro ou fazerem as tarefas escolares passadas para casa.

Nos finais de semana acrescentam à rotina, atividades religiosas. Mais de 50% dos meninos e meninas frequentam as igrejas locais que somam um total de 7 templos, entretanto quase todos são membros da Igreja Católica, na qual envolvem-se no grupo de jovens, embora haja aqueles que usam o horário das atividades religiosas para fazerem, em torno da igreja, o que a maioria faz na praça e na quadra.

As poucas lanchonetes, também são usadas como ponto de encontro da garotada, sobretudo nos finais de semana. Além desses locais citados eles vão à lan hause, principalmente para fuçar o Orkut e aqueles que têm computador em casa dizem que o utilizam frequentemente para jogos eletrônicos. Vale ressaltar que, em Angical, os jovens ainda têm o hábito de frequentar à casa das avós diariamente ou pelo menos nos finais de semana. Porém, há aqueles que tiram o final de semana para visitar o pai ou a mãe, filhos de cônjuges separados.

Atualmente 80% desses alunos frequentam o curso de computação oferecido pela escola no turno oposto a aula, ou seja, pela manhã, visto que todos eles estudam à tarde. Para alguns, o primeiro e único, contato que tem com o computador, do qual falam com encantamento. Em contra partida, na mesma sala do laboratório de informática, funciona a biblioteca da escola, mas só 2% dos alunos pesquisados mencionaram a visita a biblioteca como parte da sua rotina, embora se observe que frequentemente façam empréstimo de livros. Provavelmente não tenha o mesmo grau de importância, principalmente na era digital, daí a supremacia do computador.

Durante o ano a localidade conta praticamente com três festas populares: em junho, a festa junina promovida pela escola, faz-se quadrilhas na quadra poliesportiva que fica de fronte a escola, com direito a tudo que a tradição manda – pau de sebo, quebra pote, fogueira em pé, casamento na roça, barracas com comidas típicas e por fim um grande forrozão com um artista da região; entre setembro e outubro acontece o Evento Cultural de Angical, também organizado pela Escola Municipal de Angical. Em ambas, os jovens são platéia e atração; outra festa certa, é a da padroeira, que é realizada no dia 13 de dezembro, bem antes inicia as novenas, que tem a culminância com a missa e a procissão. Em contraste com a festa religiosa, na mesma noite uma boate local promove uma festa ‘mundana’, é para essa que a maioria dos jovens vai, quer acompanhado pelos pais ou não.

Quanto ao futuro desses jovens, eles têm muitas expectativas. Na sua totalidade esperam ter bons empregos, ganhar muito dinheiro, ter casa própria. Enumeram várias profissões ao mesmo tempo, mas poucos mencionam a continuidade dos estudos como um meio para chegarem lá. Alguns querem construir sua própria família. Outros descartam essa ideia e sonham com um futuro mais aventureiro como: dançarinas, cantores, jogadores, atores e até ganhar na loteria. Porém, esses mesmo jovens querem ao mesmo tempo ser veterinários, pediatras, bancários, etc.

Um número considerável de meninos e meninas mencionou o desejo de se tornarem policiais. Será que é por que Angical tem um posto policial fechado, sob a alegação da falta de profissionais? É uma hipótese, no entanto, o sonho desses jovens não estar ancorado na localidade, não tem o sentimento de pertencimento, ninguém mencionou algo que passe a ideia do crescimento coletivo para o fortalecimento da comunidade. Nas entrelinhas querem mesmo é ir embora, em busca de um possível progresso que está lá fora.

A Escola Municipal de Angical já foi palco da ‘formação inicial’ de vários jovens, inclusive da maioria dos professores que hoje lecionam nela. O que um dia foi expectativa de futuro para eles, hoje é presente. O que se concretizou? Certamente os sonhos não eram diferentes dos atuais alunos.

Nas duas últimas décadas, 90% conseguiram concluir o ‘segundo grau’. Na década de 90 quase todos fizeram o curso técnico – o magistério e por falta de opção no mercado de trabalho local, procuraram emprego na área de educação, hoje pedagogos ou graduandos em pedagogia e em outros cursos de licenciaturas.

Já na primeira década do início do século XXI, com a extinção do curso técnico, se popularizou o Ensino Médio, preparatório para o Ensino Superior, alguns ao concluírem fazem cursinhos pré vestibulares e tenta o vestibular, aqueles que obtêm resultados positivos ingressam em universidades na sede do município ou em outras cidades.

Outros continuam tentando o vestibular, mas a grande maioria segue a mesma carreira das gerações passadas, vão para roça viver da agricultura. Ou tiveram um futuro/presente trágico, o alcoolismo pelos bares e esquinas da comunidade, sem dinheiro e nem moral para manter uma família que deram início precocemente. Alguns foram tentar a sorte fora, entre eles há os que sonham em voltar, outros esqueceram suas raízes.

É nesse contexto que os atuais jovens da Vila Angical sonham com um futuro brilhante, mas não menciona a educação como trampolim para conquistar esses alvos. Alguns até retrucam: ‘Estudar para quê? Não preciso de diploma para ir para roça...’