sexta-feira, 21 de novembro de 2008

OFICINA DA PALAVRA ESCRITA

ESCRITA E ESCOLA

Inicialmente repetirei o questionamento de Kramer (2000): “na escola há lugar de escrever para ler e ser lido ou tão somente para ser corrigido?”
Maldita utilidade da língua! Nos últimos anos observamos que as políticas públicas, tem provido programas justamente para enfatizar a utilidade da língua – PROFA, PCNs em ação, Capacitar, dentre outros. O discurso é o mesmo, a escrita tem que ter uma funcionalidade. Na tentativa de torná-la funcional é que se tem criado uma nuvem negra em torno da mesma, tornando a escrita um ato que causa dor, medo, angustia, isolamento e à medida que amadurecemos esses sentimentos se tornam mais fortes. Percebo isso, com os alunos de 5ª a 8ª série do ensino fundamental da escola que leciono, (há quatro anos com essas turmas), nas duas primeiras séries, eles preferem ler suas próprias escritas, já nas duas séries finais, eles não gostam de expor suas escritas, preferindo ler em público os autores renomados. Qual minha parcela de contribuição para este fato?
A nota acaba sendo a real motivação da efetiva participação dos educandos nas atividades. Seria essa a funcionalidade? A pergunta deles é sempre a mesma – vale quanto professora? Ou simplesmente, é pra nota?
Esse é um dilema enraizado no meio escolar, quando o professor escreve, escreve para que, ou para quem? Exigência da coordenação, relatórios, meras burocracias que vão para gaveta. Agora sou obrigada a dar as mãos à palmatória, pois os programas mencionados a pouco, tinham como metodologia à escrita em cadernos de registro individuais e coletivos, não como instrumentos de fiscalização, mas como uma documentação para a reflexão sendo este ponto de vista expresso no guia do formador do PROFA (2001)
“A reflexão por escrito é um dos mais valiosos instrumentos para aprendermos quem somos nós – pessoal e profissionalmente – sobre a nossa prática como educadores, porque favorece a tematização do trabalho realizado e do processo de aprendizagem, o desenvolvimento da competência de escrita, a sistematização dos saberes adquiridos e o uso da escrita como ferramenta para o crescimento profissional.”

Porém quando chega na ‘ponta’ a idéia é equivocada, o professor deixa de escrever para si e passa a escrever para o outro, mera obrigação do oficio.
Escrevo para organizar as idéias, creio que a palavra falada é fugaz, a escrita documenta, memoriza. Possibilita a reescrita seja da minha, da tua, da nossa história. Reporto as palavras de Clarice Lispector (in: Guia do PROFA, 2000):“Escrevo porque à medida que escrevo vou me entendendo e entendo o quero dizer, entendo o que posso fazer. Escrevo porque sinto necessidade de aprofundar as coisas, de vê-las como realmente são...”
Escrever nem sempre é prazeroso, às vezes, como diz o poeta é semelhante a carregar água em peneira ou como diria Warschauer( ) “escrever é um exercício de vida e morte”, já faz parte de mim, escrevo para meu bel prazer.
Entretanto sinto-me de orelhas puxadas com as palavras de Kramer (2000)
“Defendo a idéia de que para subverter os caminhos que prendem e moldam as palavras, através das formas de ensino praticadas na escola, a escrita precisa ser vista e trabalhada na escola como uma produção que não é útil, que não escreve para nada, pois – não servindo – nunca correrá o risco de ser servil.”

A pergunta que não se cala é: como realizar um trabalho com os alunos que os encoraje a produção escrita e a leitura da mesma? Essas breves linhas escritas cutucaram-me à investigação do assunto em questão.

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