sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Produções Artísticas




INFÂNCIA


O cheiro, as cores, os sons... A caatinga é um cenário perfeito para aguçar os nossos sentidos e apurar a sensibilidade humana - o berço do homem sertanejo, que passa despercebido ao olhar cotidiano, sofrido com a seca e embaçado pela poeira.

Cresci ouvindo meus pais e avós falarem da beleza da caatinga, mas parecia que existiam dois mundos diferentes, outras pessoas falavam dessa mesma caatinga como um lugar cor de cinza, sem vida. Além disso, era como se a caatinga só existe lá na roça, na reserva. Demorou até compreender que toda a vegetação que me cercava era a caatinga; preferi vê-la com os olhos que encantavam meu imaginário na infância.

A primeira vez que fiz uma excursão em uma reserva de caatinga foi numa Escola de Técnicas Agrícola de Irecê – ESAGRI. Nunca mais olhei o trajeto entre a cidade e a vila que moro – Angical – com os mesmos olhos. São 12 km de estrada de chão, outrora asfalto, ladeada no inverno por belos são joeiros floridos, acompanhados por alguns mandacarus e barrigudas alvinhas, dentre roças de milho, feijão, mamona e até girassol. Na estiagem a paisagem verde – amarela, dar lugar a outra paisagem cinzenta, das árvores secas, alternadas com cactos verdes.

Recentemente fiz outra excursão ecológica, desta feita, para uma reserva de caatinga que fica de fronte a escola que leciono, na própria comunidade em que resido, conhecida por todos como Manguinha. Na semana seguinte participei da oficina de Criações Artística, na UFBA, na qual a orientadora Giovana Dantas, artista plástica, nos propôs um projeto de criatividade. Naquele dia a volta para casa deveria ser investigativa, além de observar, fomos incentivados a fazer o registro da paisagem.

Saí tão apressada do encontro, para pegar o ônibus, que acabei esquecendo do dever de casa. Na manhã seguinte, sentei num dos bancos do jardim da faculdade, aguardando o horário da aula, quando percebi um besouro tentado desvirar de posição, se equilibrar e pegar vôou. Lamentei não estar com a câmera fotográfica, ao lembrar de uma foto espetacular que fiz de uma abelhinha tirando o néctar de uma flor, na última excursão que fiz.

Só ao entrar na sala me dei conta do meu esquecimento. Alguns colegas já tinham projeto e até Diário de Bordo escrito. Outra colega falou da ladeira, popularmente conhecida como Cansa Jegue, no caminho de Irecê a Angical. Minha memória foi acionada, conduzido me a beleza da caatinga que me acompanha naquele mesmo caminho. Juntando as experiências já citadas, logo fiz um recorte mental e meu projeto estava encaminhado – um ensaio fotográfico na/da caatinga.

Fiz uma retrospectiva de tudo que marcou minha infância: os buzos que viravam bois, as árvores com seus mais deliciosos frutos, umbuzeiros, quixabeiras e juazeiros. Outras plantinhas que só alimentavam os pássaros e as crianças, outras só serviam para brincar, comidinha de boneca ou colocava na palma das mãos só para pipocar. Os mais ousados se divertiam colocando armadilhas para aprisionar os pássaros, ou com um estilingue, para matá-los. Só não valia essa vadiação na semana santa.

Aproveitei o feriado para retornar a Manguinha com alguns amigos, foi como mexer num baú, inclusive encontrei ervas que curaram meus resfriados de infância e o pião que fazia as crianças se livrarem das verrugas. Na trilha que seguimos, havia uma quixabeira que nos convidou a um acampamento. Não estávamos preparados para tanto, mas fizemos um piquenique, acompanhado de muitas histórias de infância.

O cheiro da natureza, com diversas essências, as cores com várias nuances, acompanhados de um fundo musical que é uma verdadeira sinfonia, é um convite ao retorno...

2 comentários:

NUMEROLOGIA E PROSPERIDADE disse...

Maravilha esse cantinho.
Clicando daqui, clicando dali, cheguei até você.
Gostei do seu cantinho.
Certamente voltarei mais vezes.
Convido a conhecer FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... em http://www.silnunesprof.blogspot.com
Saudações Florestais !

Rita Rezende disse...

Xará, eu fiz uma retrospectiva de toda minha infância nas suas fotos e texto. No memorial eu até tentei falar um pouco da beleza da caatinga quando sai da dormência, mas comparavel com sua visão.
Para você eu tiro o chapéu!