domingo, 31 de outubro de 2010

RESENHA


A MENOR MULHER DO MUNDO

RESUMO:

O pesquisador francês Marcel Petre encontrou no coração da África o menor povo do mundo, mais especificamente, os menores Pigmeus. Sua pesquisa foi intitulada – A menor mulher do mundo. Pois ele tivera contato com uma mulher, madura, grávida, de apenas quarenta e cinco centímetros, a qual ele denominou como pequena flor e ao descrevê-la disse que era “escura como um macaco”, em outro momento ela foi comparada também a um cachorro por conta dos seus pés espalmados.

A foto de pequena flor em tamanho real nos jornais, em pleno domingo, chocou muitas famílias, que usaram alguns adjetivos referindo-se a pequena flor, por exemplo, coitadinha, tristinha, coisa, negra, calada. Alguns a desejava como seu brinquedo, outros lembravam que ela teria o menor bebê preto do mundo.
Quanto ao pesquisador, esse ficou constrangido ao vê-la coçando em suas próprias partes intimas e causou-lhe mal estar ao vê-la ri. Certamente ela ria porque alguém diferente dela aproximava-se e não queria comê-la, como fazia os Bantos e os animais selvagens. Para se proteger desses ‘predadores’ ela e seu povo morava em árvores bem altas e só desciam para buscarem alimentos ou para dançar ao som de um tambor. Sua comunicação era breve, mais com gestos, entretanto o pesquisador conseguiu se comunicar um pouco com a pequena flor.

A pequena flor amava aquele homem amarelo, grande e amigável, bem como sua bota e seu anel, o amor ao material não interferia no amor à pessoa entre os Likoualas, assim como o era no mundo dos franceses.

ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DO CONTO:

O pesquisador Marcel Petre usa o método etnográfico no seu trabalho. Observador e curioso faz anotações acerca das suas descobertas, entretanto atribui valores ao que ver, um exemplo é quando compara à mulher que encontrou a macaco e cachorro, uma evidência de etnocentrismo, pois considerava seu grupo cultural superior ao dos Likoualas, reduzindo-os a animais. Os Likoualas enfrentavam ainda os Bantos que os reduziam, apenas, a alimento.

Como todos os seres humanos os Likoualas também tem sua própria identidade. Caracterizam-se por sua linguagem breve e simples, a comunicação é por meio de gestos para complementar as poucas palavras; lutam pela sobrevivência, residindo no topo das árvores e descendo para buscar alimentos; e a espiritualidade é contemplada ao som de um tambor. Essa descrição evidencia que independente da identidade de cada grupo, há entre eles pontos comuns, as necessidades básicas de cada ser humano, a saber, comunicação, abrigo, alimento e divindade.
Mesmo a base sendo comum a alteridade causa estranhamento. Os hábitos do outro incomoda quando diferentes dos hábitos do eu. Desviar os olhos é uma fuga ao atribuir julgamento de valores ao comportamento alheio, como coçar uma parte intima em público.

O estranhamento provoca também sentimentos de pena, piedade, desprezo e até desejo, porém desejo de possuir como enfeite, brinquedo, para diversão, pondo até a imaginar-se como aquele ser tão pequeno, de apenas quarenta e cinco centímetros, poderia servir a alguém em mesas ditas normais na sociedade ocidental. Em hipótese alguma deseja o outro dentro dos parâmetros da própria cultura dele.

Dentre os leitores da matéria publicada em jornal sobre a menor mulher do mundo, encontra-se polidas madames que fazem uso da identidade ocidental, em que se escondem os filhos por detrás de palitos e gravatas para protegê-los de alguma coisa escura como um macaco.

O ápice do estranhamento ocorre no momento em que o explorador sentiu mal está ao perceber a pequena flor ri, certamente porque ‘bichos’ não riem. Enquanto isso, ela contemplava alguém diferente dela que não demonstrava interesse em transformá-la em alimento. Entretanto iria exibir sua jóia rara numa ótica tão afiada quanto os dentes dos Bantos.

Imagina-se o que pequena flor faria se tivesse acesso aos acessórios que o homem amarelo usava? Os penduraria nos galhos da árvore para enfeitá-la? Usaria o reluzente anel ou as botas? Não. E não seria por causa da incompatibilidade do tamanho, seria pela incompatibilidade cultural.

REFERÊNCIAS:
LISPECTO, Clarice. A menor mulher do mundo. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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